domingo, 12 de dezembro de 2010

noturna


, upload feito originalmente por Fred Matos.

Vejam que coisa mais linda, meus amores.
Cliquem na foto e venham viajar nas imagens mais lindas que eu já vi.
Ótimo fim de domingo para everytodosvocês

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

night lights


night lights, upload feito originalmente por Fred Matos.

Vejam que coisa mais linda

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010


, upload feito originalmente por Fred Matos.

É de Oxum


É de Oxum, upload feito originalmente por Fred Matos.

Cliquem na foto e visitem o flickr do meu amigo Fred Matos: vocês não vão se arrepender.
Até mais, amores

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

zoom


zoom, upload feito originalmente por Fred Matos.

Vejam que foto mais linda, meus amores

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

luz do sol


luz do sol, upload feito originalmente por Fred Matos.

Vejam que coisa mais linda

Flickr

This is a test post from flickr, a fancy photo sharing thing.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Escritoras Suicidas - edição 42 - setembro/2010

no ar a edição 42 - setembro de 2010 - das Escritoras Suicidas, cujos temas são: masturbação, proposta e phoenix, na qual estou participando com três pequenos contos.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Escritoras Suicidas - julho 2010

no ar a edição 41 - julho de 2010 - das Escritoras Suicidas, cujos temas são: memória de futebol, paródia e o beijo da mulher aranha, na qual estou participando com um poema e um conto.

sábado, 12 de junho de 2010

anticlímax

Coçou a cabeça e murmurou alguma coisa em uma língua secreta. Uma oração, talvez. Uma oração tão antiga quanto as cerimônias pagãs que remontam à pré-história das religiões. É a sua defesa contra o intruso, o desconhecido que pode invadir impetuosamente a nossa indiferença oferecendo a fantasia dos instintos liberados pela poesia, pela arte, estas atividades eróticas que substituem o amor convencional, o cotidiano ritual dos encontros e desencontros cuja função é nos manter ajuizadamente à margem de qualquer tentativa de arder.

Ajoelhou-se, me olhou como se eu fosse uma desconhecida e suplicou que nos tornássemos sensatos novamente.

Não faz mal, não tenha medo, uma das nossas molas se quebrou, mas não é uma desgraça, para tudo dá-se um jeito. É impossível irmos além. Já fomos longe demais. É suficiente permanecer no desejo de exceder sem, porém, ir até o fim, sem executar o passo final, fatal

Eu esperava algo assim, mas fiquei arrasada. Eu estava pronta para a aniquilação. Já não me satisfaz a ilusão da morte como se fôssemos personagens de um drama, de um filme, de algo que se sente intensamente, mas do qual escapamos aliviados quando fecha a cortina, quando a luz se apaga, quando o livro alcança o ponto final.

Talvez a morte seja apenas um mito, uma maneira natural e elegante do corpo enganar o tempo que o consome assumindo ou se convertendo em outra substância. O desconhecido me fascina.

Eu não chorei. Sorri cinicamente, como se tranqüilizada pelo anticlímax que se coaduna perfeitamente com a índole deste adorável covarde que, contudo, neste dia dos namorados, me trouxe flores, chocolates, uma garrafa de vinho e um livro com a Obra Poética Completa de Federico Garcia Lorca.

Carla Luma

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Escritoras Suicidas - maio 2010

já no ar a edição 40 - maio de 2010 - das Escritoras Suicidas, cujos temas são: um verso de Ana Cristina César - mesa de bar e jardineiro, flores, jardim, e na qual estou participando com um poema e dois contos.


quinta-feira, 27 de maio de 2010

Pra não dizer que não falei em amor




O amor é um assunto no qual eu e Amália Malaquias, amiga já citada aqui em outros textos, discordamos frontalmente. Ela é uma romântica à antiga e acredita no amor. Um amor, segundo ela, que é um sentimento profundo, desprovido de qualquer condicionamento e interesse. Um amor que é feito de renúncia, de dar sem esperar nada em troca. .

Claro que ela não ama nem nunca amou assim e, quando eu a provoco pedindo que me cite um único caso onde sob a máscara da abnegação não se oculte o interesse próprio, só lhe ocorre falar do amor materno. Acontece é que também não existe amor materno. Existe, sim, instinto materno e tão forte que há milhares de casos documentados de filhotes adotados por mães de outra espécie animal. Há porquinhos amamentados por tigres, tigrinhos amamentados por cadelas, cãezinhos amamentados por gatas e outras tantas combinações, inclusive de animais de espécies que em situação natural resultaria em caça.

Nos mamíferos o instinto materno é conseqüência da ação da ocitocina, um hormônio produzido no cérebro durante a amamentação que estimula o hipocampo, uma região relacionada à memória e ao aprendizado e cujo resultado é produzir uma ligação quase indestrutível entre mãe e filho, criando um sentimento duradouro. O estímulo da ocitocina liberada na amamentação é tão poderoso que em experiência com animais de laboratório comprovou-se que as cobaias preferem amamentar os filhotes a tomar cocaína.

Neste ponto, Amália, que desdenha dos meus conhecimentos na área da química biológica, me interrompe para dizer que não tem importância alguma se o amor é conseqüência da atuação de um hormônio e que deve existir algum outro hormônio que estimule a eclosão do amor entre “uma mulher e um homem”. Pus entre aspas porque Amália só crê no amor heterossexual. Do ponto de vista biológico é possível que ela tenha razão neste aspecto, porque os feromônios sexuais atuam para possibilitar a reprodução sexual, em conformidade com o instinto de preservação da espécie, mas isso, então, seria negar a possibilidade de “amor” homossexual, porque nada indica que a natureza tenha criado mecanismos bioquímicos de atração entre indivíduos do mesmo sexo.

Justamente porque creio na possibilidade do “amor” homossexual, tanto quanto do amor heterossexual, é que não acredito no amor com as características que Amália atribui a este sentimento, pois tais características só são possíveis quando um estímulo bioquímico atua com força superior ao do instinto de auto-preservação e, além do instinto de preservação da espécie, apenas as drogas e certas doenças mentais, são capazes de levar uma pessoa à aniquilação, situação análoga ao do amor romântico no qual a minha amiga acredita.

Mas eu também creio no amor, uma outra espécie de amor, um amor que é dádiva da cultura, da arte, da imaginação humana, da fantasia, da poesia. Amor que é conseqüência do amor próprio, não em detrimento dele. Amor porque nos faz bem amar e sentirmo-nos amados. Amor de salvação, não amor de perdição.

Carla Luma


domingo, 23 de maio de 2010

hipocrisia



Nunca fui a queridinha da Associação de Pais e Mestres, mas ia à missa aos domingos e confessava os meus pecados sentada no colo do padre. Portanto não esperem que eu assuma uma atitude hipócrita usando este espaço para condenar as safadezas alheias, como se eu fosse uma santinha. Estou dizendo isso porque uma certa poetisa recém lançada dedicou o seu livro aos "justos" e jura desprezo aos demais indivíduos da espécie humana. Se ela não fosse uma pessoa inteligente e culta, como imagino que seja, eu poderia acreditar que, coitada, não sabe que dedica o seu desprezo a todos os seus leitores que, como eu e, evidentemente, como ela também, clamam por justiça para os outros e privilégios para si e para os seus, porque as noções de justiça e de probidade que cultivamos sofre da elasticidade dos interesses próprios contrariados. Isso é humano e é natural que seja assim. Portanto, não sinto dificuldade ou remorso em classificá-la entre os hipócritas, o tipo de gente que mais me enoja. Não vou dizer quem é a moça pra não fazer propaganda gratuita. O livro tem dois bons poemas e quatro ou cinco razoáveis. O resto não vale a tinta. Mas não julguem que isso é pouca coisa: a poesia contemporânea é paupérrima. Dois bons poemas em um mesmo livro é fato notável.

Por falar em hipocrisia, recebi um e-mail de uma leitora do blog. Ela diz que lê tudo que eu escrevo, que concorda com tudo que eu digo, que gostaria de ser como eu sou, mas que não pode se expor e que por isso é acompanhante anônima do blog e não deixa comentários. Tentando se justificar, ela arrola meia dúzia de motivos estúpidos, entre os quais um marido ciumento, violento e antiquado, mas que ela diz que ama e teme perder. Defendo o direito que ela tem de ser covarde. Não tenho como saber das dificuldades que enfrenta e posso aceitar que em certas circunstâncias levar umas porradas de vez em quando pode ser menos doloroso que passar necessidade. Mas me senti mal lendo o e-mail, tanto quanto com a dedicatória da poetisa. Em circunstancia alguma eu aceitaria ser espancada. Fere a minha noção de dignidade. Em circunstancia alguma eu aceitaria que alguém bisbilhotasse minha bolsa, meus bolsos, minhas gavetas, que rastreasse no histórico do browser os sites que visitei, que abrisse as minhas cartas, que vasculhasse os meus e-mails. Isso fere a minha noção de dignidade. Porém, só me cabe cuidar da minha dignidade, não da dignidade alheia. E, como tudo o mais, a noção de dignidade de uma pessoa pode ser muito diferente da de outra. Ser puta, por exemplo, não fere a minha dignidade. Não sou juíza de ninguém e cada qual que ature o peso da sua cruz, mas, por favor, querida leitora anônima, não me venha dizer que concorda com tudo que digo e que gostaria de ser como eu sou. Talvez você se sinta melhor aceitando-se como é.



Sem pudor me exponho
para os puros e para os ímpios
pois não me inquieta
se quem quer me decifrar
tem as mãos sujas de sangue
se almeja a santidade
se mente
se rouba
se traí
se vai a missa
se reza
pouco me importa
a mim não cabe julgar.

Carla Luma


sábado, 22 de maio de 2010

Como se fosse voar














sempre oscilante
fico indecisa
quando preciso optar
qual a roupa que vou usar
quando tenho que escolher
entre uma festa e um bom livro
se necessito decidir
entre a montanha e o mar

mas quando acerto um programa
quando o trabalho me chama
é como se outra se erguesse
e me tomasse nos braços
ponho uma tanguinha vermelha
em poucos minutos me visto
em dois ou três me maquio
é como se entrasse no cio
é como se fosse voar

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Partilha












Sei que prometi contar o que rolou na viagem à China, mas não ouso contrariar a minha natureza, que hoje está mais para o profano que para o profissional, se é que no meu metiê se pode separar uma coisa da outra.

Não somente porque a aparência é fundamental na minha atividade, mas, sobretudo para exercer o meu legítimo direito à futilidade, ontem fui ao cabeleireiro. Para ser mais explícita, fui ao MaluMaison D' coiffeur, um salão chiquérrimo na rua Eugênia de Carvalho, na Vila Matilde. Indicação de Amália Malaquias quando soube que eu pretendia fazer um corte retrô, anos 60.

Optei por um corte carré, na altura dos ombros, bem desestruturado, com volume, movimento nas pontas e franja longa, que combina bem com o formato do meu rosto. Adoro mudar o visu de vez em quando e agora estou ruiva. Tão ruiva que é capaz da Nina Rizzi me convidar para militar no MST.

Enquanto fazia as unhas, agora cobertas com Escândalo, um esmalte cereja rosado da coleção da Ana Hickmann, ouvia a instrutiva e filosófica conversa de uma noiva e sua mamãe, a dela, não a sua, querida leitora, querido leitor. Conversa que tentarei reproduzir o mais fielmente possível:

Seja sincera comigo, querida: se você fosse pobre, dividiria com uma amiga o seu último pedaço de pão?

Claro que dividiria, mamãe, mas não estou entendendo onde você está querendo chegar.

E se você descobrisse que além do seu pão a sua amiga está também comendo o Jorge?

O quê? O Jorge e a Juliana? Quem contou isso a você?

Calma, filha. Não sei de nada, ninguém disse nada, muito provavelmente nunca houve nada entre eles, eu estou apenas querendo saber o que você faria caso descobrisse alguma relação íntima entre eles?

Isso é pergunta que se faça no dia do meu casamento, mamãe?

É o dia certo de fazer, minha querida. O que você faria?

Claro que me separo dele, mas antes arranco os olhos daquela vadia.

Então acho que ainda está em tempo de você desistir do casamento, filha. Se você se sente capaz de dividir o último pedaço de pão, mas não se sente capaz de compartilhar afetos que não lhes farão falta porque jamais se gastam...

Pararam a conversa quando perceberam que eu era toda ouvidos.

Carla Luma

terça-feira, 18 de maio de 2010

Negócio da China


Os milhares de leitores fiéis, que visitam meu blog, compram meus livros e acompanham na Caras - e em outras revistas, jornais, rádios e tevês - as minhas andanças e danças, os meus retumbantes sucessos e pífios fracassos, sabem que estou retornando da China onde passei dois meses em intensa negociação para o lançamento de uma edição do badaladíssimo as mãos me falam, os falos me calam.

Eu nunca consegui entender plenamente o significado da expressão "negócio da china". Eu pensava que era uma coisa. Depois a Rede Globo fez uma novela com esse nome e eu comecei a pensar que significava outra coisa mais próxima das falcatruas que costumam ser pano de fundo das novelas da emissora carioca. Na dúvida, pesquisei em dicionários, enciclopédias, até no Google, e encontrei dezenas de acepções umas complementares, outras contraditórias. Como tenho preocupações mais sérias e urgentes deixei o assunto de lado, mas agora, depois de dois meses intensíssimos, posso assegurar-lhes que erra quem pensa que fazer um negócio da china é como comprar bolacha quebrada, ou que assemelha-se às barganhas eleitorais desavergonhadas entre os partidos políticos brasileiros, sem livrar a cara de nenhum. Sou puta mas não sou burra e não tenho medo.

Quando lá em cima falei das novelas coçou-me a xoxota aproveitar para falar de uma coisa que sempre me deixou intrigada: vocês já notaram que nas novelas só a negrada trabalha? Os protagonistas acordam de paletó e gravata e passam o dia inteiro vestidos pra festa, tramando arapucas uns para os outros, dando corno uns nos outros, e bebendo rios de uísque. Em novela até as casas dos pobres são arrumadinhas e asseadas e a dos ricos -os protagonistas sempre são ricos ou alpinistas sociais - parecem showroom de design de móveis e decorações: ninguém tem lençol furado nem larga toalha molhada na cama, nunca falta luz, não entra bala perdida... Parece a "Ciranda da Bailarina", de Chico Buarque de Holanda.

Pois é, esse post era pra falar sobre as negociações para o lançamento do meu livro na China, mas me perdi no caminho e pra não desandar ainda mais a maionese, deixo por aqui, com a solene promessa de voltar breve para contar o que rolou no oriente.

Beijocas, meus amores.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

covardia

Estou revoltadíssima, meus amores. Enfiaram sob a minha porta um bilhete anônimo no qual sou tratada por vagabunda e acusada de ser a vergonha do prédio e um perigo para moral e os bons costumes.

A revolta nem é tanto por ser chamada de vagabunda, é mais por se tratar de um bilhete anônimo, muito mal escrito por sinal, cheio de erros de ortografia e de concordância, tirando-me a oportunidade de esclarecer que puta não é vagabunda, que puta trabalha muito mais do que certas madames que não fazem porra nenhuma, exceto exatamente o mesmo que eu faço, com a diferença de fazer mecanicamente, de fazer eventualmente, de fazer sem arte, de fazer como se não estivesse fazendo para justificar a vida boa que leva às custas dos seus homens. Algumas nunca varreram uma casa, nunca lavaram pratos ou roupa, nunca suaram passando a ferro, nem na beira do fogão. E não fazem nada com a justificativa de que não querem quebrar a unha, não querem fazer calos nas mãos, não querem derreter a maquiagem... porque? Porque precisam estar sempre fresquinhas, bonitinhas, tas quais bonequinhas à disposição dos seus provedores. São o quê? São putas. E são vagabundas, não eu.

Obvio que isso é coisa de alguma vizinha, ou de mais de uma. Não quero acusar ninguém, mas suspeito de... Não, melhor não acusar porque não tenho certeza.

Mas eu sei exatamente o que pretendem. Pretendem me assustar. Pretendem me colocar na defensiva. Pretendem, tenho certeza, que eu me mude. Sabem por quê? Porque têm medo de mim. Porque vêm os olhos gulosos que os seus homens colam na minha bunda quando cruzam por mim nos corredores, no playground, nos elevadores. Têm medo, é isso. Se não tivessem não se esconderiam atrás do anonimato covarde. Pois bem. Já sei o que vou fazer: se o meu advogado não se opuser, eu vou fazer cópias xerox do bilhete, anexar esta minha resposta e enviar para todos os apartamentos.

Felizmente hoje é sexta-feira e tenho convite para passar o fim de semana em Campos do Jordão para onde sigo esta noite.

Beeeeeeeiiiiiiiiijoooooooooooos

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Homem Vitruviano




















Encontrei-me com uma amiga de infância que não via fazia milênios. Enquanto ela me falava apaixonadamente da sua profissão eu me dei conta da necessidade de esclarecer alguns aspectos do meu ofício, caso eu não pretenda que os meus milhares de leitores e leitoras fiquem como fiquei na conversa com Amália Malaquias: nas nuvens.

Certamente muita gente sabe que os classificados de quase todos os jornais aceitam anúncios de, digamos eufemisticamente, massagistas e acompanhantes, mas é uma fria, meus amores. Quem quiser minimizar os riscos de trilhar nesta maravilhosa senda do comércio sexual deve preferir o marketing direto com a utilização de porteiros e recepcionistas de hotéis como intermediários. A taxa de praxe é de 10%, mas, se você der um pouco mais, se for do tipo que pergunta pela família do cara, ou até se se dá de graça a ele em datas comemorativas, terá, em reciprocidade, a preferência para atender aos melhores clientes: os mais generosos e, se possível, mas não obrigatório, os mais simpáticos. Exceto por uns caras aqui da cidade que já me conhecem, e têm o número do meu celular, atendo preferencialmente executivos, em viagens de negócios, hospedados em hotéis de 4 e 5 estrelas. É o meu nicho de mercado. Meu cachê básico é de 500 reais, mas, quando a procura está baixa, pra não ficar sem serviço, faço por 300 paus. Em compensação, quando a procura cresce, o que ocorre quando há grandes eventos na cidade, Salão do Automóvel, por exemplo, meu cachê pode ir até 2 mil.

Mas, é bom que fique claro que minimizar riscos não significa absolutamente que se trata de uma atividade isenta de perigos. Já passei por situações que me levaram à beira do pânico. Uma ocasião fui investigada e passei por horas de interrogatório em uma delegacia de polícia imunda, uma pocilga fedorenta, tudo porque um porteiro de hotel achacava os executivos que requisitavam serviços sexuais. O mau-caráter tinha acesso às fichas dos hospedes e, não sei como, fazia fotos comprometedoras. Um dos chantageados tomou a atitude certa: foi à polícia. Felizmente logo se esclareceu, o próprio porteiro confessou, que nenhuma garota estava envolvida no esquema.

Pior que isso foi o medo que passei quando fui atender um homem imenso. Tinha quase dois metros, ou um pouco mais. Pintava cabelo, bigode e sobrancelha de um preto retinto. Apesar disso, ou talvez por isso, dava pra se perceber que tinha por volta dos setenta anos. Não era um velho alquebrado. Era forte, enérgico, com a voz grossa e autoritária. Uma dessas pessoas que você logo percebe que está acostumado a mandar e a ser obedecido sem contestações. Até aí tudo bem, eu já havia atendido muitos outros homens com aquelas características que, por sinal, parecem constituir um dos fatores que os alçam ao sucesso no competitivo mundo dos grandes negócios e das grandes negociatas: muitos políticos têm também estes atributos.

O meu coração começou a disparar foi quando o cara disse que me algemaria na cama: pés e braços, e eu me imaginei o Homem Vitruviano de Da Vince. Protestei. Ele me mandou calar a boca e que deitasse, nua, pernas e braços abertos. Falou de um jeito que, até hoje não entendo porque, obedeci. Algemou-me. Pôs um lenço na minha boca e lacrou-a com fita crepe. Não precisava: bastava o coração na boca para me manter calada. Ficou alguns minutos, que me pareceram uma eternidade, apenas me olhando e dizendo: “você é uma obra-prima”. Depois se sentou ao meu lado e começou a me acariciar lentamente com a ponta dos dedos. Acalmei-me. Depois começou a me lamber. Eu já estava tranqüila e até gostando, convencida de que ele não cometeria violência. Foi ao banheiro e quando voltou trazia uma navalha na mão. O coração voltou a disparar, comecei a suar apresar do ar-condicionado fortíssimo do quarto. Inutilmente tentava gritar e me mexer. As lágrimas inundaram os meus olhos. Imagino que a minha cara era de puro pânico e que aquilo o excitava. O filho da puta me depilou os pentelhos e quando imaginei que me estupraria ele masturbou-se e me untou com aquela porra fedorenta. Depois sorriu. Disse-me que fui uma ótima menina, que me pagaria o cachê triplicado. Que me acalmasse. Que não gritasse. E sorriu novamente: um sorriso de menino grande que está satisfeito com um brinquedo novo. Arrancou a fita crepe com um movimento rapidíssimo e pôs a outra mão sobre a minha boca. Doeu pra caralho. Percebeu que eu não gritaria. Tirou o lenço que já quase me sufocava. Tirou as algemas. Pagou-me regiamente. O pior havia passado. Consegui me acalmar. Vesti-me, e, quando ia saindo, uma força misteriosa me fez dar meia volta. Tirei da bolsa um cartão e disse a ele que me ligasse quando viesse outra vez a São Paulo. Ele disse que talvez ligasse, mas só após o tempo necessário para que me crescessem novos pentelhos.


Carla Luma

segunda-feira, 5 de abril de 2010

federico




















A
tire a primeira pedra à puta aquela que nunca sucumbiu à ilusão da segurança representada por um - digamos para quiçá instaurar nesta simplória narrativa um clima de fábula - príncipe encantado. Que é um ente mítico que reúne miraculosamente as figuras do pai, do amante e do filho. Ou seja: do provedor, do estuprador e do bibelô.


Estes surtos de loucura felizmente nunca foram muito duradouros e, tanto a intensidade quanto a frequência foram diminuindo após o fim da adolescência. Entretanto, conheci Federico quando eu já me considerava livre deste perigo. O cara entrou na minha vida como o furacão Katrina em Nova Orleans: avassaladoramente.


É mentira. Não foi boa a comparação, mas gostei da imagem e não vou retirar. Na realidade ele chegou de mansinho e me conquistou trazendo-me flores, presentes, chocolates - sou doidinha por chocolate, principalmente os absurdamente amargos - como se pudesse ler pensamentos, suprindo, desta forma, a figura do pai ideal. Mais tarde, na cama, na hora da onça beber água, era pródigo nas artes sexuais. Chupava, metia, tirava, me virava do avesso, chupava de novo, metia, gozávamos, cansávamos, começávamos outra vez, até a completa exaustão e, depois, saciados, tornava-se uma criança dócil solicitando afagos para dormir. Era o homem perfeito, pensei. Deste não largo, brigo por ele até a morte, pensava. Apaixonada. Sucumbida.


Imagino que vocês estão pensando que agora é a hora do mas, e que direi que com o tempo ele foi deixando de me trazer presentes, que se tornou frio, ausente, grosso, ou que eu descobri que era um gigolô e que eu era uma espécie de investimento. Não. Nada disso. Acontece é que cansei. Acontece é que eu não presto. Acontece é que eu jamais conseguiria meter um par de chifres em Federico: um cara tão perfeito, um gentleman, e, ao mesmo tempo, eu não consigo me satisfazer comendo do mesmo todos os dias, pode ser lagosta, camarão, feijoada, o manjar que se serve aos deuses no monte Olimpo... Eu não consigo. Estava ficando triste, melancólica, beirando a depressão. Mandei Federico pastar e, desde então, considero-me definitivamente curada.



Carla Luma

sexta-feira, 2 de abril de 2010

prólogo





Não sou de deixar as minhas coisas ao acaso, como se a mão da providência pudesse vir com um inusitado tesão apenas para pagar as minhas contas e não, como sói de ser, para apalpar-me as carnes, arrancar a minha roupa e me enfiar a pica em todos os orifícios prováveis e, se eu der mole, nos improváveis também.

Generosidade gratuita nem mesmo na infância. Lembro-me perfeitamente que o meu padrinho ficava de pau duro quando me colocava no colo e que me beijava na boca quando ficávamos sozinhos, mas nunca tentou me comer, é bom que eu deixe claro. Eu até que gostava de sentir aquele pau latejando na minha bunda. Não gostava era do bafo de cigarro, mas ele me trazia chicletes e sempre deixava uma grana pra eu ir ao cinema e tomar sorvete.

Com certeza eu estaria dizendo besteira se afirmasse que naquela idade eu considerava aquilo uma lisonja. Na época eu não cogitava o imenso poder que uma mulher pode exercer sobre os homens. Este conhecimento eu só adquiri na adolescência e a ele devo todas as minhas conquistas. Quando vou a Jacarezinho visito o meu padrinho. Eu gosto muito dele. O coitado está bem velhinho e gagá. Quando ficamos sós eu dou um jeito de acariciar-lhe a pica, mas a ereção nunca se completa. Até boquete eu fiz uma vez. O fracasso foi tamanho que o velho quase mija na minha boca, mas os olhinhos safados brilhavam de satisfação.

Mas eu dizia que não sou de deixar as minhas coisas ao acaso. Foi por isso que escrevi as minhas memórias organizando os meus diários em um livro cujo título é "As mãos me falam, os falos me calam", um grande sucesso editorial no Brasil e nos países lusófonos, que em breve será lançado no mercado chinês com uma tiragem de fazer inveja a Paulo Coelho.

Eu temia que os meus diários caíssem, se eu morresse, por exemplo, ou por outro motivo qualquer, em mãos de pessoas que não conseguem ver no âmago das coisas e que dariam à minha vida uma conotação de superficialidade que eu não admito. Não sou apenas uma mulher gostosa e bonita: tenho conteúdo.

Um advogado que me comia, quando a esposa viajava pra Curitiba, foi que me aconselhou a registrar os meus diários na Fundação Biblioteca Nacional para proteção dos meus direitos autorais. Foi a minha primeira providência. Relutei muito mas não resisto: depois se descobriu que a mulher tinha um caso na capital com um escritor famoso, cujo nome eu não direi porque não posso provar.

De uma editora à qual enviei um projeto do livro e os primeiros capítulos recebi uma carta que dizia, através de mal disfarçados sofismas, que não publicariam as memórias de uma puta, nem mesmo se eu pudesse cobrir os custos de produção e distribuição. Os idiotas não conseguiram enxergar que ao me expor, ao expor as minhas intimidades, os meus relacionamentos precoces, o que de fato se revela é a hipocrisia estarrecedora da nossa melhor sociedade. A hipocrisia da elite na qual nasci e fui criada.

Não me tornei puta por necessidade, foi uma opção por uma profissão honesta e que pode ser muito bem remunerada, desde que a profissional tenha os atributos físicos necessários, um pouco de talento para a interpretação, que saiba se valorizar e, sobretudo, que goste de foder.

Eu adoro.

Carla Luma

ilustração: Sergey Ignatenko


sábado, 27 de março de 2010

minha estréia



Meus amores,

Estou contentíssima, tanto quanto fiquei quando consegui o meu primeiro orgasmo, ou mesmo quanto como fiquei no lançamento do meu livro, "As mãos me falam, os falos me calam" que brevemente será lançado na China, com uma tiragem de 3 milhões de exemplares.

O motivo desta transbordante alegria é a minha estréia no renomadíssimo e prestigioso site das escritoras suicidas , na edição número 39, que já está no ar.